WASHCost realizou ao longo do mês de Março de 2012 um levantamento com vista a apurar os custos de esvaziamento das latrinas avançadas (boas latrinas num lugar definitivo) nas zonas periurbanas da Cidade de Maputo.
Published on: 23/04/2012
WASHCost realizou ao longo do mês de Março de 2012 um levantamento com vista a apurar os custos de esvaziamento das latrinas avançadas (boas latrinas num lugar definitivo) nas zonas periurbanas da Cidade de Maputo.
A razão para tal levantamento deveu-se ao facto de nos últimos 10 anos terem sido construídas muitas novas casas na zona de expansão da Cidade de Maputo. Nestas zonas, foram igualmente construídas latrinas mais avançadas (fossa séptica, latrinas com casotas de blocos etc.) com maior durabilidade. Porém, depois de alguns anos de uso estas fossas já cheias, precisavam de intervenções de esvaziamento. Porém, poucos sabem quanto custa fazer tal esvaziamento e existem poucos estudos sobre os custos que as famílias e outras entidades incorrem em processos do género.
Foi com o objectivo de dar resposta a esta preocupação que WASHCost foi aos bairros antigos (Laulane e Mafalala) buscar dados relativos aos custos de esvaziamento. WASHCost foi também aos bairros de expansão (Albazine e Magoanine B) para apurar os custos de construção.
Neste artigo avançamos alguns dos resultados preliminares, qualitativos, deste levantamento.
Dados sociodemográficos
Dos 80 agregados familiares entrevistados, 76% são chefiados por homens e as famílias no geral são compostas entre 4 a 7 pessoas. A maior parte dos agregados (95%) vive em casas próprias, sendo cerca de 88% a viver no mesmo bairro há mais de 10 anos (bairros antigos: Mafalala e laulane) e 38% a viver no bairro entre 5 a 10 anos (bairros de expansão: Albazine e Magoanine B).
A maioria dos agregados inquiridos, cerca de 63%, possuem um rendimento mensal de entre 2.500 Meticais e 10.000 Meticais.
Acesso aos serviços de água
Todos os agregados buscam água de fontes seguras, porém, ainda existem agregados familiares que não a conserva em melhores condições, seja por falta de informação, seja por incapacidade de o fazer. 93%possuem torneira nas suas próprias casas dos quais 14% dentro da casa e 79% no quintal, enquanto cerca de 5% tiram em casa dos vizinhos e 2% num fontanário ou torneira pública. Quase metade dos agregados familiares tem casas de banho separada da latrina
Acesso ao saneamento
Grosso modo, as latrinas localizam-se no quintal das residências, embora alguns agregados tenham as suas latrinas dentro da casa. Os dados indicam que 89% dos agregados possuem latrinas localizadas no quintal e 11% dentro da moradia. Os dados indicam ainda que o bairro de Albasine é o único que tem na sua totalidade latrinas no quintal, enquanto o bairro de Laulane com 20% lidera os bairros com latrina ou sistema dentro da moradia, seguem-se Mafalala e Magoanine com 15% e 10% respectivamente.
A maioria das latrinas foi construída entre os anos 2000 e 2009, perfazendo cerca de 57%. 19% das latrinas foram construídas entre os anos 1970 a 1999 e cerca de 24% foram construídas nos últimos 3 anos, isto é, entre 2010 e 2012 nos bairros de expansão .
No bairro de Albasine, todos os agregados abrangidos pela pesquisa não têm uma latrina secundária, diferente do que se constatou nos bairros de Mafalala, com 35%, seguido de Laulane com 15% e Magoanine com 10% de residências com latrinas secundárias. Na sua maioria as latrinas secundárias são tradicionais. Apesar de cerca de 10% dos moradores compartilharem a mesma latrina, verificou-se nelas uma boa higiene.
Acesso aos serviços de esvaziamento
Nos bairros estudados só 20 % dos agregados familiares já fez pelo menos um esvaziamento da latrina. Em 2011 o número de esvaziamentos representa o dobro de 2010. Isso mostra uma tendência de que mais e mais pessoas precisam deste serviço.
O processo de esvaziamento é feito de diversas formas. 20% dos agregados faz o seu próprio esvaziamento, usando meios e força próprios, sem nenhuma despesa monetária envolvida. A maioria (65%) contrata pessoas singulares (a um custo médio de 350 Meticais). Estas duas opções são talvez menos onerosas mas representam um grande risco para a saúde pública. 10% contratam organizações comunitárias (a um custo médio de 1.325 Meticais) e só 5% estão a usam empresas privadas especializadas (a um custo médio 2.750 Meticais). Estes resultados mostram claramente que a população ainda não tem acesso a serviços seguros de esvaziamento (sem risco para saúde pública).
Alguns factores concorrem para o recurso a serviços não profissionais de esvaziamento, entre os quais:
a) Difícil acesso de viaturas às residências
b) Altos custos de esvaziamento seguro
c) Demora na execução dos trabalhos, aliadas a má prestação de serviços
Saneamento do meio
No esvaziamento das latrinas tem sido prática dos agregados ao uso dos seus próprios quintais ao enterrar os sedimentos tirados das fossas ou cova. Segundo relatos nos quarteirões 5,9 de Mafalala algumas famílias preferem ainda ao uso das drenagens para despejar os sedimentos das fossas, e isso é feito durante as noites.
No concernente ao lixo doméstico, 100% dos agregados nos bairros de Mafalala e Laulane levam o lixo para um ponto de recolha contra 60% em Magoanine e 20% em Albasine. 40% do lixo em Magoanine é enterrado contra 75% em Albazine. Neste último bairro cerca de 5% do lixo é queimado.
Lavagem das mãos
A maioria das pessoas dos bairros abrangidos pelo estudo afirmou que lavam as mãos depois de usarem a latrina com água e sabão. A pesquisa pôde verificar que no momento da pesquisa 95% dos agregados tinha sabão dedicado a lavagem das mãos. Nos bairros de Laulane e Magoanine 100% dos agregados possui sabão, contra 95% e 85% em Albasine e Mafalala respectivamente.
Conclusões
O estudo traz uma imagem clara de que os bairros periféricos ainda não têm acesso aos serviços profissionais de esvaziamento, e que os custos destes serviços, onde existem, são 4-8 vezes mais caros que o dos não profissionais e singulares. Infelizmente o trabalho feito pelas pessoas singulares e pelos próprios agregados representa um grande risco para a saúde pública.